segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Mudanças: longe de nossas vistas!
Mudanças: longe de nossas vistas!
Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes.
(Paulo Freire)
Eu acredito em mudanças. Acredito que verdadeiras mudanças fazem a sociedade, as organizações e as pessoas evoluírem na compreensão de vida e de mundo. Mas arrisco dizer que as propaladas e necessárias mudanças que deveriam ocorrer no Brasil não acontecerão no médio prazo. Ainda demoraremos muito para fazer verdadeiras mudanças em nosso sistema político e de representação que começam em nossas escolas, sindicatos, associações de moradores, organizações sociais diversas, câmaras de vereadores, prefeituras, casas legislativas, governos estadual e federal. Ao invés de vivermos verdadeiras mudanças, a maioria ainda prefere conviver com ilusões e superficialidades para nada mudar.
Sustento tese acima a partir de vivências no micro universo de minhas relações interpessoais. Junto com outros, criamos e recriamos propostas com mudança de rumos em sindicatos, escolas, organizações sociais, associações de moradores. Por falta de uma reflexão crítica e por medo de mudanças substantivas, a maioria ainda decide pela continuidade, pela mesmice, pela manutenção do mínimo que sempre se apresenta como o máximo do que é possível fazer. Observando os brasileiros, todo dia mais sabedores de sofisticadas artimanhas de corrupção, pergunto se já estamos preparados para combater a corrupção e a manipulação dos interesses públicos? Ainda estamos distantes, sem convicções e receosos para enfrentar, como um dever cívico, a corrupção e a manipulação em todos os níveis, espaços e instituições em que ela possa ocorrer.
Chego a pensar que a perspectiva de não mudanças seja confissão de desesperanças de nossa gente, o que é fato muito sério e preocupante. A descrença e a desmoralização da política é ingrediente que nos permite entender parte deste fenômeno. Como muitos não acreditam mais em ninguém, propostas mais ousadas e inovadoras de gestão e organização da cidadania não são bem acolhidas. A maioria prefere, então, acomodar-se aos benefícios do conhecido, do mesmo, do mínimo. Prefere “viver de realidade”, não permitindo lutar por novas perspectivas de vida e de mundo. Triste assim!
Para quem defende a cidadania ativa, a organização coletiva, a criticidade e a reflexão como ferramentas de transformação da realidade, eis o dilema: o que fazer com uma ampla maioria que não acredita em mudanças? O que fazer com aqueles que fazem apenas jogo interesseiro para salvar seus privilégios? O que fazer para retomar a importância dos desejos, dos sonhos e das utopias como ingredientes para não desesperar?
Historicamente, foram poucos os que arquitetaram e lançaram bases das mudanças significativas das sociedades e do mundo. Estes poucos, hoje mais do que nunca, precisam fortalecer-se para superar barreiras de pessimismo e desesperança. A vanguarda dos sonhos e das utopias sempre esteve sob a responsabilidade de poucos!
Combato a desesperança propondo novas ações, recriando meus desejos, sonhos e utopias. Acredito em mudanças, pois sei que os desejos dela ainda estão por aí. Os espaços coletivos, os pequenos grupos e as parcerias não nos deixam desesperar! Um grupo, um coletivo fortalece os ideais de mudança. As grandes mudanças nunca chegam de cima; sempre são forjadas de baixo e de dentro de cada um de nós, em relação com os outros.
Nei Alberto Pies, professor, escritor e ativista de direitos humanos.
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